segunda-feira, 28 de abril de 2014

O Jogo

Num sonho, estávamos jogando futebol num gramado imenso. Vi depois que eram vários gramados, e times e todo mundo tinha uma torcida. A dos policiais que se vêem como heróis infalíveis, a dos negros que se vêem discriminados, a das mulheres que se vêem subjugadas, a dos homossexuais que se viam agredidos, a dos pais de família, a dos filhos e tios, sobrinhos e netos e, o que era mais engraçado é que o mesmo jogador jogava em dois, três, sete times e se juntava e dissolvia se batendo com outros times. Cada hora era um jogo diferente e todo mundo se reorganizava e quem estava jogando às vezes virava torcida. E as torcidas também, se juntavam aqui, separavam ali e se agrupavam de outro jeito, para torcer por outro jogo. Ou para virarem jogadores em outro. Depois de um tempo começaram todos a se separar, o clima começou a ficar incerto e cada um começou a achar suspeito o outro jogador ou torcedor que se aproximava para um abraço hoje e para um soco amanhã. Todos inseguros, começaram uma guerra de todos contra todos. Foi quando vi cinco pessoas estranhas, um careca de toalha e óculos do Harry Potter, um cabeludo narigudo de toalha e sandalinha, uma senhora quase corcunda enrolada em azul e branco, um negro de terno e bigodinho e, pra terminar, um gordinho careca sorridente de toalha amarela. Eles ficaram lá, de mãos dadas. Não falaram nada. Engraçado que eles é que estavam de toalha, mas era eu que não conseguia parar de sentir vergonha.

Conto por: Renato Kress

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