quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Um pouco de "para sempre"


Nossa, sinto uma saudade às vezes de você, sabia? Penso que sou louca. Devo ser. Como pode uma saudade tão boa de algo que talvez nunca tenha existido e nunca voltará - como poderia, não é? E fica aquela lembrança do seu sorriso, carregado de carinho e perversão. Penso que a vida vale a pena por esses detalhes ridículos, tolos, banais. Será? 

Aquele ano novo que passamos juntos na areia, quando transamos no banheiro daquele conjugado, rindo na orelha um do outro para não acordar minha irmã, o namorado dela e mais dois amigos que fingiam que dormiam no quarto. Tenho certeza de que desse dia você se lembra. Difícil vai ser você lembrar daquele dia que pedalamos juntos e conversamos sentados nas mesas de pedra enquanto você ficava pegando sol, me respondendo sem me olhar.

Eu te via o tempo todo, sabe? Mesmo quando você não estava nem aí para mim. Eu sempre te vi. Acho que te via antes de te conhecer. Talvez por isso não te telefone mais. É que você está como sempre esteve antes de estarmos juntos. Você está sempre dentro.

Eu queria não ter tido você para não saber o que é te perder, perder você chegando do supermercado com sacos de macarrão e molho de tomate dizendo que ia cozinhar pra gente, você começando a cortar o tomate para fazer o molho e me pedindo ajuda pra picar o manjericão, depois a cebola e a cenoura e quando via eu já estava mexendo a massa, com tudo cortado e você baixando meu short e beijando minha nuca, ali, na beira do fogão. Acho que você nunca cozinhou nada que eu não terminasse, mas não posso reclamar, você também nunca terminou antes de mim.

Acho que a vida é feita dessas coisas sabe? Percebi outro dia, tropeçando com você na rua, apressado conversando com uma morena muito alta, que não tenho nenhuma foto sua comigo. Não sei se gostaria ou não. O fato é não tenho. Nem para desgostar da foto eu tenho uma. O melhor de tudo é que você se assustou comigo, quando nos cruzamos, e ficou ressabiado, com cara de culpado e sem jeito. Sei que nunca conseguiria dar um ponto final na nossa história, então naquele dia, eu voltando de um café, você indo sei lá para onde com a morena, dei um ponto através dos teus olhos. Você é tão cheio de si, sempre. Ali foi a primeira vez que te vi sem graça. Quando teus olhos me viram eu li que alguma coisa por ali, alguma coisa entre a gente, seria o nosso tal "para sempre".

Conto e Receita: Renato Kress


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