terça-feira, 19 de março de 2013

Anais das imperatrizes da água

"...
A água, meu Senhor, flui do mais alto para o mais baixo, levando consigo tudo o que não tiver boa estrutura, toda forma solta que esteja insone, despregada de raiz e sem a devida atenção. A água se move em ondas, em filetes e em rios, como a seiva vermelha nas tuas veias, como o sangue verde esbranquiçado dos troncos. Um veio d´água irradia filetes de vida para dentro da terra onde o solo breve proliferará sua pelugem verde onde o Senhor descansará seus cabelos. A água traduz movimento em vida e é necessário honrar o que ela traz, Senhor.


Honrar os presentes da água é honrar aquilo que chega e te acelera as águas internas, aquilo que te flui intenso e ondeia forte nas praias do coração. A água, Senhor, fará de palavras pétalas e de pétalas sílabas e de sílabas contratos e então será preciso honrar os contratos, nutrir a quem te nutre.

Haverá imperatrizes das águas, todas fluidas e lânguidas e lívidas e a corrente que verter elas até você terá de ser alimentada. Há de encontrar-se a nascente desses rios não para controlá-la, mas para preservá-la..."

 - Pedaço do manuscrito tropeçado nos meus pés por uma onda, em um sonho.


Conto por Renato Kress

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